“Lucélia Santos é minha amiga de infância! (risos). Nós fomos praticamente criados juntos, porque Lucélia tinha 15 anos, ou 16 anos quando veio de Santo André para o Rio fazer “Godspell”, eu tinha 18, 20 anos, sou um pouquinho mais velho que ela, quando eu fiz o Jesus Cristo no “Godspell”, que era uma produção do Moracy do Val e uma direção do Altair Lima, feitas em um circo em Botafogo. Era um teatro dentro de um circo montado no bairro de Botafogo. Era o velho e lindo musical “Godspell”, ela fazia a Maria Madalena e eu fazia o Cristo. A gente morou juntos, porque todos morávamos juntos, tínhamos um apartamento na Fonte da Saudade no Jardim Botânico. Morava a Zezé Motta, que também fazia o “Godspell”, eu, Lucélia e outros amigos que moravam conosco dividindo casa, então foi um começo maravilhoso.
Das coisas que mais me lembro da Lucélia, ela vai se lembrar disso, foi o dia que ela foi convidada para fazer o teste para “Escrava Isaura”, eu me lembro da Zezé maquiando a Lucélia, eu lembro que ela estava no quarto da Zezé. Eu me lembro delas puxando o peito para cima para a Lucélia ficar mais peituda (risos), para ela ganhar o papel, e ai eu sei que ela ganhou o papel e voltou para casa numa alegria. Sei que durante aquele mês ela pagou todas as compras da casa, ela fez o supermercado, a gente era pobre, mas a gente era muito unido, muito feliz, foi uma época muito feliz nas nossas vidas.
Quando a Lucélia despontou, foi muito lindo porque foi uma vitória de todos nós, éramos uma turma de amigos, onde cada um era muito solidário ao outro, eu me lembro quando a Zezé foi fazer o teste para Xica da Silva, foi a mesma coisa, a gente preparou a Zezé para Xica da Silva, e ela ganhou, durante um tempo ela sustentou a nossa casa porque ela é que estava ganhando mais, foi tudo muito lindo. A Lucélia traz para mim sempre essa memória.
Sobre “Ciranda de Pedra” com 3 ícones femininos: Eva Wilma, Lucélia Santos e Norma Blum, maravilhosa, era tão interessante, brilhante!
Tem uma curiosidade, porque ali, eu não era absolutamente ninguém, eu era uma promessa de diretor, eu tinha ganho um prêmio na peça “Blue Jeans” como diretor revelação e o Boni, muito esperto, chamou 3 jovens de 20 e poucos anos para dirigir na Globo: Guel Arraes, Jorge Fernando e eu.
Ai atravessamos muito tempo até eu entrar na televisão, em “Memórias de Amor”, de 1979, e anos depois dirigir “Ciranda de Pedra” que ela fazia com a Vivinha. Depois a gente fez mais alguma coisa juntos na televisão, e ai a Lucélia começou uma carreira fulminante na televisão, na comédia, fez “Locomotivas”, e muitas coisas legais, eu também comecei a fazer televisão, e a gente se encontrando o tempo inteiro.
Depois eu fiz “Lola Moreno”, no teatro, já foi o encontro dela com o John Neschling, o casamento dela e o nascimento do filho. E nós estávamos juntos nessa época também. Eu me lembro da casa deles que nós íamos. São vários momentos da nossa carreira.
Agora eu sinto saudades dela, nesses momentos mais atuais, a nossa profissão e tão dolorosa que se a gente não trabalha juntos, a gente convive menos, é uma loucura isso.
Lucélia estava junto no comecinho, ela foi percussora, foi para a TV antes de mim, porque na Escrava Isaura dela, ela era uma criança (risos), entramos na Globo crianças!”
Wolf Maya
Ator e Diretor
(Wolf trabalhou, como ator, com Lucélia no teatro em “Godspell” (1974), “Rock Horror Show’ (1975), “A Verdadeira História da Gata Borralheira’ (1976) e “Lola Moreno” (1979)
Dirigiu Lucélia na peça “A Verdadeira História da Gata Borralheira’ (1976) e na novela “Ciranda de Pedra” (TV Globo – 1981)
Mensagem de áudio – 15 de Outubro de 2025